domingo, 18 de outubro de 2009

Entrevista com Paulo José

*Escrito por Rafael Oliveira

Antes da entrevista, Paulo José pediu tempo para tirar uma foto com um fã mirim. Aos 72 anos, o próprio ator e diretor ainda mantém um pouco da curiosidade e entusiasmo infantis dentro de si. Curador do projeto Livro em Cena, sucesso de público da Bienal que levou atores até o palco para ler obras de escritores consagrados, Paulo precisou reler clássicos da literatura brasileira para a escolha dos trabalhos que seriam contemplados. Neste processo de resgate, reencontrou a infância: “'Reinações de Narizinho' (de Monteiro Lobato) é saborosíssimo”, admitiu. Abaixo, ele fala mais sobre essas redescobertas, a curadoria do Livro em Cena e critica os hábitos de leitura do brasileiro.

Como você avalia o Livro em Cena?
Deu muito certo. Houve uma adesão maciça do público e dos atores. Todos os convites que eu fiz foram aceitos. Houve até quem lamentou por não estar aqui, como a Patrícia Pillar, que está viajando pelo país para divulgar seu filme, e as Fernandas (Montenegro e Torres), que estão em cartaz com suas respectivas peças.

Como surgiu o projeto?
A ideia foi do Robert Feith (vice-presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), entidade que promove a Bienal). Ele queria ampliar as atrações para evitar a estagnação. Inicialmente ofereceu o projeto para a Monique Gardemberg (cineasta), que me recomendou para ser o curador devido ao meu conhecimento em literatura brasileira.

Quais foram os critérios para a escolha dos atores e dos escritores homenageados?
Procurei chamar grandes atores que fossem reconhecidos não apenas pela TV, mas também pelo teatro, pois era indispensável que soubessem ler bem. Já para decidir os autores eu primeiro escolhi Machado (de Assis). A partir dele, fechei em mais 19 nomes. Como só entrariam 12, fui optando por aqueles que me trariam menos problemas com a questão dos direitos autorais.

O evento foi sucesso de público todos os dias. Como você enxerga a relação do brasileiro com a literatura?
Ele lê muito pouco. Aqui no Brasil a biblioteca não faz parte da casa das pessoas. E o pior é que ninguém acha isso estranho. Para mim ela deveria ser tão indispensável quanto um fogão. Com o sucesso da Bienal e do livro em cena, espero que alguma luz se acenda na cabeça dessas pessoas.

O que está lendo atualmente?
Tenho relido muitas coisas. Depois de certa idade você começa a reler aquilo que leu quando ainda era cedo demais para entender (Paulo faz uma pausa) ou quando já era tarde demais.
Com o quê, por exemplo? (neste momento, ele se levanta e mostra a pilha de livros que carrega consigo. Entre as obras estão "Literatura Brasileira: das origens aos nossos dias", de José de Nicola; "A hora da estrela", de Clarice Lispector e "Cidades Inventadas", de Ferreira Gullar)
Muitas coisas. Como além de ser curador do projeto eu também leio trechos no palco, precisei reler todos os autores que foram contemplados. Um dos que mais têm despertado minha atenção é o Ferreira Gullar (e se propõe a ler em voz alta "Subversiva", de Ferreira Gullar, que você assiste no vídeo abaixo). Também tenho lido Monteiro Lobato. Estou impressionado com "Reinações de Narizinho". Era o livro da minha infância. Estou enxergando ali o que eu não era capaz de ver quando li pela primeira vez, ainda criança. É saborosíssimo.

*Rafael Oliveira faz parte do programa de treinamento do O Globo e fez essa entrevista no último dia da Bienal para o blog do Prosa e Verso.

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