quarta-feira, 19 de agosto de 2009

The Ballad of John and Silvio

Dois homens diferentes estiveram no mesmo lugar. Edir Macedo e Roberto Irineu Marinho viajaram no mesmo voo, se hospedaram no mesmo quarteirão de Manhattan e dividiram a mesma cabine do trem que os levou até a pequena Bethel, cidade rural no estado de Nova Iorque. Em nenhum momento, o jovem e humilde evangélico de Rio das Flores e o herdeiro do império da comunicação trocaram qualquer palavra. O silêncio foi fruto da diferença, enorme com exceção apenas do objetivo em comum. Quarenta anos depois, parece que nada mudou desde que Marinho e Macedo se aventuraram nas montanhas de Woodstock. Eles continuam sujos de lama até o último fio de cabelo e não aprenderam que o bom é fazer amor e fumar maconha. Ainda mais em tempos de guerra pelo ibope.

A recente briga entre Globo e Record é capaz de envergonhar a qualquer cabeludo-bigodudo-barbudo-fedorento-pacifista-feminista-naturalista que tenha acendido o menor dos baseados no tempo em que não se dizia não às drogas ou ao sexo sem camisinha, apenas não às mortes no Vietnã. Não há mais meninas nuas correndo após o estouro de mais uma bomba de napalm, mas ainda há famílias inocentes em meio ao fogo cruzado. Quem deveria melhorar, não melhora, apenas acusa. Quem deveria se defender, não se defende, apenas acusa de volta. Nas últimas semanas, surgiram tantos santos e demônios na mídia brasileira que em breve deverá ser lançado o Festival de Woodface, com transmissão de emissora ainda não definida. A Record fez a melhor oferta, mas a Globo alega que tudo será pago com os dízimos da Igreja Universal. Será?


Especialistas consideram que a batalha das televisões poderá se aproximar perigosamente dos limites do respeito à humanidade. Gugu Liberato, mercenário contratado pela Record para guerrear no front dominical, articula nos corredores do Teatro Tablado o agendamento de uma entrevista com Osama Bin Laden, algo capaz de transformar a interpretação do mascarado do PCC em mera ponta de dez segundos em Malhação. Já a Globo estuda a realização do vigésimo terceiro especial de Roberto Carlos em 2009. O espetáculo Emoções em Alto Bar contará com a presença de alguns dos maiores beberrões da música popular brasileira. Zeca Pagodinho, Ângela Rô Rô, Reginaldo Rossi e Mister Catra cantarão ao lado do Rei sucessos que vão da simples Brahma até o sofisticado Whisky com Red Bull. Tudo vale pelos preciosos pontos de audiência.


É costume dizer que na guerra não há vencedores ou vencidos. Também não há o certo ou o errado, apenas complexas questões de conveniência. É difícil apontar quem é o vietcongue e quem é o fuzileiro de queixo quadrado na batalha sangrenta entre Globo e Record. Entretanto, se a comparação coubesse na Segunda Guerra Mundial, existiria apenas uma certeza: Silvio Santos é Stalin e o SBT é a sua União Soviética. Enquanto nazistas e democratas se digladiam, o canal 11 está fechado para balanço. Nessas horas, a experiência do Homem do Baú falou mais alto para a assinatura de um tratado de não-agressão. Quem teve acesso ao documento garante que a papelada foi baseada em um artigo único, de cláusula única: NÃO ME FODA QUE EU NÃO TE FODO.

Contrariando todos aqueles anti-semitas que consideram os judeus causadores de confusão desde os tempos do Egito Antigo, Sílvio Santos nunca abdicou do bom relacionamento com a Globo durante os anos em que sonhou em ser o líder de audiência na televisão brasileira. Senhor Abravanel sempre foi grego demais para tirar proveito das experiências psicodélicas de Woodstock, algo com sabor de Vale a Pena Ver de Novo para quem cresceu entre as madames satânicas da Lapa. Mesmo alheio ao movimento hippie, Silvio Santos sempre soube, ao lado de Jonh Lennon, que precisamos dar uma chance à paz.

Bruno Marinho

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