quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Sem título II

Saiba, se você for preto, você é suspeito. Cuidado, se você for preto, pois você é suspeito. Atenção, se você for preto, sua alcunha é suspeito. De costas, mão na parede, é coisa de rotina. Não sorria, o negócio é serio, o som oco da cabeça no concreto. Tórax, cintura, bolsos, entre as pernas, tornozelos, de frente. Olha pra baixo, seu preto (o barulho do destravamento da arma é límpido). Quem é você, seu preto, que passa por essa rua como se nada devesse? Escuta aqui, seu preto, se entrar na minha mira de novo não tem perdão. O preto vê na parede a mancha vermelha sobre o acinzentado do muro e passa a mão na testa úmida. O preto recolhe do chão suas coisas em um ritual religiosamente silencioso. O preto firma os passos tentando se lembrar do caminho. Saiba, se você não é preto: eu sou. Cuidado, se você não for preto: eu sou. Atenção, se você não for preto: eu sou.

C.C.J.

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