terça-feira, 4 de agosto de 2009

Desencontro

Um pombo parou do outro lado da rua. O aspecto igual ao dos outros milhares de pombos espalhados pela cidade, as penas acinzentadas, o pescoço esverdeado, este ser indefinido entre ser ave e parasita urbano. Pois parou no meio-fio e olhou para os dois lados da rua.

Com o deserto da rua, usualmente deserta, naquela hora da tarde, pulou os poucos centímetros até o asfalto e acomodou os pés vermelhos no asafalto sem acusar choque ou perder o equilíbrio. Mantendo as asas fechadas, caminhou serenamente, pescoço chacoalhando, até a outra beira.

Como quem faz algo trivial, o pombo subiu na outra calçada com um salto certeiro e seguiu o seu trajeto. Por um instante pensei que o bicho viesse em minha direção, mas não, dirigiu-se para outro ponto: uma casa de porta metálica pintada de amarelo um pouco a minha esquerda.

Sem titubear, bicou-a três vezes e esperou alguns segundos. Bateu novamente no número 151, quase na esquina. Esperando, andou em círculos diante do seu destino, em silêncio. Conforme a demora aumentava, a movimentação ficava mais frenética.

O pombo ainda insistiu com mais três bicadas na porta metálica e aguardou. A resposta não veio. Sereno como havia chegado, partiu, sempre em frente, rumo à esquina. Assim que perdeu-se da minha vista a porta se abriu e um pato pôs a cabeça para fora, buscando em vão. Grasnou algo e voltou para dentro.

C.C.J.

Nenhum comentário:

Postar um comentário