segunda-feira, 6 de julho de 2009

Um nome

Olhou-se no pequeno espelho redondo e conferiu o tom da maquiagem. Forte o suficiente para ser notada, um tom abaixo de olharem para ela automaticamente como uma vagabunda. Sorriu com a conclusão do pensamento enquanto guardava o objeto na pequena bolsa. Estava ali em pé sobre o salto 15 do par de botas pretas há dez minutos. Estava atrasado.

Estranhamente, percebia-se de bom humor. A espera sob a luz irregular de um poste antigo, mesmo com o forte cheiro de lixo e urina que parecia parte da vizinhança, não a irritava. Sentia o lábio levemente umedecido pelo batom e a cada leve toque da língua um sabor agradável invadia-lhe a boca. Um carro entrou rapidamente na rua e parou diante dela sem nem seque baixar o vidro, apenas abriu a porta. E ela entrou.

O vestido colado ao corpo esguio subiu pelas suas coxas quando se sentou no banco do carona. A velocidade das rodas no asfalto, aditivada pela ausência de trânsito, tornava a cena ainda mais excitante: o recuou milimétrico do pano preto apenas sugerindo a pequena calcinha branca disputava a atenção do motorista com o caminho. Ganhou.

Ele contara noutra ocasião que amigos lhe falaram sobre ela. Seus clientes compunham um leque variado de tipos. O perfil dele era: homem na casa dos trinta, salário mediano e prestes a se tornar pai. O primeiro encontro deles ocorreu menos de uma hora depois de ele receber a notícia de que seria pai, contou entre perdido e encabulado; ela o recebeu entre compreensiva e sedutora.

Atirou-se sobre ela quase que simultaneamente ao parar o Gol em um canto qualquer de qualquer lugar. Beijou-a como se não houvesse desejado outra coisa há tempos, como se tivesse sido privado desde sempre daquele objeto. Apertava-lhe o corpo sentindo cada pedaço da carne que agora era sua, colocando todo o seu peso sobre aquela mulher.

Não tinha preferência. Enquanto o encosto do banco caía para trás, acariciava-lhe o pau e fechava os olhos pensando em nada. Gostava de pensar que sua alma seguia para uma nuvem bonita e tranquila a partir de um certo instante, quando então seu corpo recebia autonomia para viver. Mas sabia que sua alma também estava sendo invadida pela língua quente daquele homem. Apenas não pensava.

Ela tirou o vestido rapidamente enquanto sentia os dedos sobre a calcinha massageando sua boceta. Gostava do jogo, mesmo sabendo de cor o seu final. Ele a despiu da calcinha como um autômato, seguindo uma espécie de cartilha. Estava excitado desde que se telefonaram e o passeio daquela pele sobre seus pelos ampliava suas sensações.

Chupou-o com vagar. Aquele momento do sexo era o seu preferido, uma maneira de colocar em prática tudo que aprendera ao longo da vida. As formas de brincar a língua, as maneiras de engolir o pau dependendo do tamanho, o controle da velocidade do fellatio. Todos os animais trepam, é instintivo. No boquete encontrava a redenção de sua humanidade.

Colocou-a de costas no banco e a penetrou de uma vez. O grito fino e seco o animou a enfiar com cada vez mais força e rapidez, um modo de testar a sua resistência e a de sua amante. Era sua posição preferida, ver a mulher totalmente controlada sob suas vontades e seus desejos o fazia sentir rei do seu próprio mundo.

O rosto, pressionado contra o estofamento, avermelhava-se. O prazer de sentir aquele homem dentro de si não alcançava o seu pensamento, que viajava. Voltou a si com a respiração desritimada do gozo de seu cliente. O suor dos dois, enquanto esfriava os corpos quentes dos dois, aquecia o céu frio da cidade que se esqueceu de si mesmo.

O carro agora já não vinha tão veloz. Uma certa magia, antes presente, não era mais sentida. Podiam ser as roupas desalinhadas; os personagens desgrenhados; a maquiagem borrada dela; a expressão perdida dele. Era isso e a irregularidade das ruas mais nítida no caminho de volta. Havia tudo isso e muito mais coisas que nem eles saberiam dizer.

Chegaram e, após o pagamento, ele fez o que nunca fizera: segurara sua mão. Diante do espanto dela, perguntou-lhe o seu nome. Pega de surpresa, disse Carolina, sem muita convicção e nenhuma verdade, seu nome era outro. Ele justificou: minha filha nasceu há pouco, eu e minha esposa ainda estamos escolhendo o nome.

C.C.J

Um comentário:

  1. A ideia geral é interessante, mas o desenvolvimento não leva o leitor a um clímax (sem trocadilho). A sensualidade pretendida não se traduz na narrativa. Fica a ideia, apenas.

    ResponderExcluir